Sobrecarregado, Hospital Regional de Ceilândia tem 155 pacientes com Covid-19 e sofre com falta de profissionais, equipamentos e insumos
Em colapso pela pandemia do novo coronavírus, o Hospital Regional de Ceilândia (HRC) tem pacientes internados no banheiro. Também faltam pontos de oxigênio para o tratamento de infectados pela Covid-19. Por isso, profissionais de saúde improvisaram gambiarras para manter as pessoas respirando. A Força-Tarefa da Ação Conjunta Covid-19 identificou essas irregularidades em diligência realizada nesta quinta-feira (11/3).
De acordo com a força-tarefa, o HRC está superlotado, com 155 pacientes infectados Covid-19, fora os casos não diagnosticados. O pronto-socorro tem espaço para 32 pessoas, mas, atualmente, trata 57.
Segundo a equipe de fiscalização, estão ocupados todos os 10 leitos de unidade de tratamento intensivo (UTI) para Covid-19. Observou-se ainda que a instituição hospitalar sofre com a falta de profissionais de saúde, medicamentos e equipamentos. A força-tarefa identificou que pacientes de UTI sem infecção pelo coronavírus foram transferidos para outros hospitais.
Os 73 leitos de enfermaria para Covid também estão ocupados. Quando um é disponibilizado, já há fila de espera para preencher o posto. E, nesta manhã, havia apenas oito técnicos de enfermagem para tratar esse contingente de pacientes. O pronto-socorro foi transformado em uma espécie de UTI.
Pacientes intubados aguardam leitos. E, sem espaço, alguns foram internados no banheiro. Segundo o deputado distrital Fábio Felix (PSol), membro da força-tarefa, não há macas nem pontos de oxigênio disponíveis. Alguns pacientes sobrevivem com gambiarras. De acordo com o parlamentar, os profissionais da saúde relatam que a situação está pior na comparação com a primeira onda da pandemia, em 2020.
“A situação é muito grave. Encontramos cenário de guerra na terça-feira (9/3) no Hran, e, hoje, no HRC, o caos. Há um esforço muito grande dos profissionais para que as coisas funcionem da melhor forma possível. Há superlotação. Os servidores trabalham no limite, com racionamento de capotes e luvas. Também há puxadinhos com gambiarra de oxigênio para todos os lados. Também há duas pessoas internadas no banheiro com puxadinho de oxigênio. Alertamos para uma possível falta de oxigênio. Já há racionamento dos cilindros”, denunciou Felix.
O parlamentar também comentou a exaustão dos profissionais da saúde e o endurecimento das medidas restritivas. “Estamos trabalhando por demanda, por denúncias. Voltaremos a falar com os profissionais para saber se o governo fez as entregas que prometeu que faria”, afirmou.
“O que pode resolver o nosso problema, hoje, é uma restrição maior na cidade. Precisamos de uma espécie de lockdown verdadeiro, e não fake. A ideia é coibir as infecções e a alta contaminação que estamos vivendo neste momento. Os cuidados sanitários são para todo mundo”, acrescentou.
Inconstante
Conforme o relato de profissionais da saúde, há restrição do uso de antibióticos, por receio de falta, e revezamento de sedativos. Segundo os relatos colhidos pela força-tarefa, o abastecimento deste item tem sido “inconstante”.
O estoque de luvas está no limite. Por isso, os profissionais de saúde estão constantemente preocupados com a ausência do equipamento. Não há capote descartável disponível.
De acordo com a força-tarefa, o HRC tem três máquinas para hemodiálise – duas são antigas e apresentam problemas. O hospital teria comprado quatro novas, mas não dispõe de equipe ainda para operá-las.
Além disso, as equipes estão desfalcadas. Há carência, por exemplo, de enfermeiros e nefrologistas. Os profissionais na linha de frente para a recuperação de infectados relatam momentos de constante exaustão. E alguns deles estão afastados por questões de saúde mental.
A diligência também averiguou problemas com contratos temporários. Um número considerável de profissionais contratados temporariamente falta ou surpreendentemente abandona a função.
Segundo Jorge Henrique, do Sindicato dos Enfermeiros do DF, o HRC está em “colapso”. “Não existem mais leitos para internação. Há pacientes sentados em cadeiras para receber oxigenoterapia. E a gente vê muitas ambulâncias chegando”, descreveu.
Para Henrique, o GDF precisa reforçar os investimentos em pessoal e insumos, e deve abrir outras estruturas de atendimento para desafogar o HRC.
Josy Jacob, diretora do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem, também participou da ação. “A situação é assustadora. E a gente se preocupa muito. Os profissionais estão nesse campo de guerra e sem as armas necessárias para trabalhar. Não tem oxímetro para medir a oxigenação dos pacientes”, denunciou.
Hran
Na terça-feira (9/3), a força-tarefa fiscalizou o Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A equipe flagrou pacientes sendo medicados deitados em bancos e cadeiras, além da falta de efetivo médico para o atendimento.
Força-tarefa
A força-tarefa é formada por diversas instituições do DF. A lista inclui, por exemplo, a Câmara Legislativa (CLDF), a Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF), o Sindicato dos Enfermeiros (SindEnfermeiro-DF) e o Conselho de Enfermagem (Coren-DF).
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde do DF sobre a situação. A pasta enviou nota confirmando a superlotação, mas negou a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs).
Veja a nota completa:
“A Secretaria de Saúde informa que as unidades hospitalares estão apresentando superlotação, com número crescente de pessoas procurando por atendimento. Todas as unidades da rede pública estão trabalhando intensamente para que os pacientes sejam atendidos em curto espaço de tempo e da melhor maneira possível.
Com relação à situação dos equipamentos de proteção individual (EPIs), a secretaria ressalta que não há falta de equipamentos e insumos, que estão sendo usados de forma racional para que não ocorra desabastecimento. A demanda aumentou no mercado mundial em razão da pandemia. A pasta possui processos de compra em andamento para manutenção dos estoques.
A secretaria vem adotando medidas para ampliar leitos de UTI e de enfermaria. Ainda nesta quinta-feira (11/3), com o acréscimo de leitos na rede pública e privada serão disponibilizados 622 leitos de UTI Covid-19. Desse total, 296 serão ofertados pelos hospitais particulares por meio de contrato com a SES, e 326 serão disponibilizados pelos hospitais da rede pública.
Na última sexta-feira, em 48 horas foram abertos 88 leitos de enfermaria, sendo 40 leitos no Hospital da Ceilândia (antigo hospital de campanha), 10 no Hospital da Região Leste e 38 no Hospital Regional da Asa Norte.”
Por: Portal Forte News **Com informações do metropoles
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