Segundo alunos, refeições entregues a estudantes em situação de vulnerabilidade econômica não têm mínimas condições de higiene
Alunos da Universidade de Brasília (UnB) que residem na Casa do Estudante Universitário (CEU) denunciam a falta de qualidade do cardápio fornecido pela instituição. Segundo relatos de estudantes, as marmitas dadas aos moradores da CEU, todos em situação de vulnerabilidade social, vêm com cabelos, plástico, larvas e até insetos.
Devido ao consumo da comida de baixa qualidade, segundo explica a estudante de direito e moradora da CEU, Johanny Cássia, muitos alunos estão com problemas de saúde; em constante estado de insegurança física e psicológica, e até com intoxicação alimentar. Os discentes organizaram um dossiê com relatos e entregaram à universidade.
“Os alimentos estão vindo com moscas, larvas, cabelo, mosquitos. As pessoas estão passando mal, muita gente foi parar no hospital. Eu passei mal diversas vezes, não fui ao hospital por medo da Covid-19, a situação esta insustentável”, protestou Johanny.
Segundo explica a estudante de direito, dois processos administrativos internos foram abertos e a UnB alega que vai trocar a prestadora do serviço no próximo semestre. A previsão é que o 2º semestre de 2020, o atual semestre letivo, vá até maio.
Sem RU, marmitas passaram a ser fornecidas
Com a adoção das medidas de distanciamento social pela UnB, o Restaurante Universitário (RU) foi fechado, ainda no primeiro semestre de 2020. Para garantir a alimentação dos estudantes em vulnerabilidade social que precisam do restaurante, em 1º de abril do mesmo ano a Câmara de Assuntos Comunitários da universidade decidiu oferecer um auxílio alimentação emergencial.
O auxílio durou até dezembro para os estudantes da CEU. A partir de 2021, a instituição passou a fornecer marmitas no espaço comunitário da Casa do Estudante. A terceirizada que fornece a alimentação para os moradores é a Sanoli, a mesma empresa responsável pela comida do RU.
“Se a UnB fornece o auxílio alimentação em pecúnia para todos os outros estudantes em situação de vulnerabilidade, por que não faz o mesmo com os que moram na CEU?”, questiona Johanny. Segundo ela, com a situação de insegurança alimentar e as complicações de saúde, não há como a universidade esperar até o semestre seguinte para resolver a situação. “A impressão que temos é que a UnB está tentando se esquivar”, disse a estudante.
O Diretório Central Estudantil (DCE) emitiu nota pública pedindo uma resposta da instituições de ensino. “É necessário uma atuação imediata da administração superior para resolver o problema, os estudantes têm pressa e têm fome”, disse a entidade estudantil.
Outro lado
Procurada, a Sanoli, empresa que fornece os alimentos, afirmou que fez investigação junto aos estudantes da UnB, mas não acredita que doença alguma tenha sido transmitida pelos alimentos. “Do total de 20 alunos identificados, apenas seis compareceram à entrevista e, dentre esses, somente três informaram ter apresentado sintomas que poderiam sugerir uma intoxicação”, disse a empresa, em nota.
Segundo a prestadora de serviço, “foi possível detectar que não houve coincidência no que se refere à refeição, sendo que, um sentiu-se mal após o café da manhã, o outro após o almoço e um terceiro após o jantar. Um deles procurou atendimento médico, mas nenhum deles necessitou de internação”.
A empresa afirma que o problema seria um bebedouro na Caso do Estudante, do qual os alunos que passaram mal teriam consumido a água.
A empresa disse ainda que “as fotos de larvas, cabelo e plásticos que a senhora informa ter recebido, não permitem concluir que estavam nas marmitas, eis que, após sua distribuição, as marmitas podem ser acondicionadas incorretamente, consumidas a destempo ou mesmo violadas, até porque, não se tem certeza sequer da data a que se referem”.
A Universidade de Brasília (UnB) afirmou que “acompanha, com cautela e responsabilidade, as denúncias relativas à qualidade das marmitas entregues pela Sanoli”. Segundo a instituição, um dos casos refere-se a uma estudante que disse ter passado mal após a ingestão do jantar do dia 9 de fevereiro.
A universidade disse ainda que aplicou o protocolo para casos de intoxicação alimentar. Entretanto, a análise microbiológica das amostras e o cruzamento de informações colhidas junto aos estudantes não caracterizaram intoxicação. O laudo teria indicado que os alimentos estavam de acordo com a legislação vigente.
No caso das denúncias de contaminação física (plástico, cabelo, etc.), a instituição afirmou que a formalização das denúncias foi feita no último fim de semana. “A Diretoria do Restaurante Universitário notificou a Sanoli na segunda-feira, 12 de março, e a empresa tem cinco dias úteis para responder. Caso seja confirmada a contaminação, será configurada infração grave prevista no contrato. No limite, a empresa será punida com multa sobre o valor da fatura”, informou a UnB.
A universidade concluiu assegurando estar atenta a todos os desdobramentos dos casos relatados, em diálogo com os discentes, com a empresa e com as equipes técnicas de fiscalização. Além disso, está em fase final a licitação para contratação de uma nova empresa prestadora de serviços.
Por: Portal Forte News **Com informações do metropoles
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